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OS HERÓIS DA FÉ E SUAS FRAGILIDADES

Talvez você esteja pensando que estarei abordando mais uma vez sobre a galeria da fé retratada no livro bíblico de Hebreus, porém esse não é o meu foco principal. Pretendo me reportar aos heróis da fé do nosso tempo pastores e pregadores da palavra de Deus que tão bravamente têm se dedicado ao evangelho.

Antes de me tornar pastor sempre admirei as pessoas que se dedicam ao ministério da palavra. Quando os observava desempenhando seus ministérios sempre imaginava que eram pessoas desbravadoras e que por estar fazendo o trabalho de Deus seriam supridos em todas as áreas inclusive as emocionais.
Ao entrar no ministério a partir do momento que comecei a fazer o curso no seminário passei a conhecer um outro lado da moeda que nem sempre é tão glamoroso, espiritualizado e triunfante. Percebi que há sobre aqueles que desempenham o papel de liderar suas comunidades uma imposição desde cedo de uma perfeição que foge da realidade.

As pessoas sempre esperam de seus líderes espirituais uma postura firme, uma palavra sempre pertinente a cada momento e uma família dos sonhos. É muito comum transferirem o ideal de vida e família perfeita para os seus líderes espirituais refletindo o seguinte pensamento: “Se eu que sou um miserável pecador e não tenho uma vida perfeita ao menos o meu líder deve ter, afinal, está vivendo para servir a Deus.” 

Por conta das imposições percebemos que há momentos em que é preciso parar, refletir e tratar de si mesmo. Às vezes aqueles que estão no ministério estão tão mergulhados no seu propósito de servir a Deus cuidando do povo e esquecem que também precisam de cuidados.

Não são poucos os casos de ministros da palavra que vêem suas vidas ruir em um mar de depressão por conta dos fracassos, imposições, decepções, e ainda, frustrações familiares por perceber que mulher e filhos não deram conta das expectativas que lhes são confiadas. Em casos assim a depressão parece ser uma maneira bastante clara de mostrar que não são semideuses.

Vejo que mesmo não sendo fácil podemos aprender com as lutas, o fato de admitirmos que não somos perfeitos e que nem sempre teremos as melhores respostas para tudo não refletem um fim, mas uma oportunidade de recomeço.

Há uma série de problemas que agravam a situação e passo citar os mais comuns:

1.       A exigência por resultados: Com o mercado religioso em expansão, o crescimento das mega-igrejas, o surgimento das “receitas” milagrosas de crescimento numérico e outros... Existe cada vez mais a pressão das comunidades que exigem de seus pastores resultados. Está cada vez mais raro encontrar igrejas que enfatizem um ministério bíblico de valorização da pregação do evangelho de modo sadio.

2.       A exigência por uma figura carismática: Têm sido exigido dos líderes cada vez mais uma aparência triunfante, um sorriso sempre presente, uma palavra que seja sábia e ao mesmo tempo engraçada, descontraída e ao mesmo tempo emocionante, ou seja, o pastor deve ser um verdadeiro profissional da auto-ajuda religiosa. Esses não podem deixar transparecer dificuldades, problemas pessoais e muito menos emocionais.

3.       A exigência por uma família perfeita: Certa vez quando fui ser entrevistado por um conselho para uma possível transferência de igreja (algo comum nas igrejas presbiterianas) após me perguntarem sobre quase tudo, fui indagado várias vezes por um presbítero sobre qual seria o papel da minha esposa na comunidade. A verdade é que quando uma igreja procura um pastor para liderá-la não está procurando apenas um homem, mas um pacote completo com direto a um pastor herói, uma esposa de pastor faz tudo e filhos de pastor que sejam verdadeiros anjinhos exemplos de uma educação perfeita na comunidade o que realmente foge da realidade de uma família composta de seres humanos de verdade. 

4.       A solidão no ministério: Algo que também está muito presente infelizmente. Costumo dizer que se um pastor encontrou um amigo para compartilhar as dores da vida encontrou um grande tesouro. Por não poder compartilhar tudo com a comunidade muitos pastores sofrem de solidão por não confiarem em sua membresia como ponto de apoio na hora das dificuldades. Quando muitos procuram apoio em alguns colegas de ministério nem sempre são interpretados da maneira correta. Há muita concorrência, deslealdade nesse meio o que atrapalha o relacionamento de alguns pastores com outros pastores. Já existem projetos que tentam aproximar pastores e incentivam a praticar o companheirismo, mas infelizmente ainda em pequena escala. Há congressos que trabalham temas que envolve o ministério, mas infelizmente algo ainda muito elitizado e que abrange uma camada muito pequena de ministros e familiares.

A verdade é que há muito ainda para ser feito e precisamos de mais projetos, iniciativas que tentem ao menos diminuir esse quadro. Quando estamos vivendo a parte boa com honras e aplausos nos sentimos intocáveis, imponentes e muito perto de Deus verdadeiros “super-heróis” da fé. Só que as crises fazem parte da caminhada dos servos de Deus e nada mais confortante do que saber que temos alguma válvula de escape, a que ou a quem recorrer. Quantos não são os servos de Deus que já não se fizeram a seguinte pergunta: Não seria melhor desistir? Não seria melhor fazer outra coisa? Muitos não têm coragem de admitir, mas esse é o pensamento que muitas vezes nos rodeia.

Termino dizendo que devemos orar por nossos pastores e suas famílias, por gente que realmente ama a causa de viver para Cristo. Precisamos ter a consciência de que nem sempre vão acertar, nem sempre vão ter uma família perfeita aos nossos olhos, nem sempre estarão com um sorriso estampado no rosto, mas Deus é aquele os chamou e conduzirá esse barco da vida até que as tempestades se acalmem e possamos seguir em frente.

Felizes são aqueles que podem dizer:

         “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé.” 2 Timóteo 4:7

Em Cristo.

Maycon Rodrigues, Pastor e totalmente dependente de Deus.  




Resto do Post

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